sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Introdução
Ir a um Hospital pode ser por uma boa razão ou não. Quando se recorre ao Serviço de Urgência Hospitalar, é porque surgiu uma emergência. Esta emergência pode ter diversas origens ou ser causada por acidente, ou doença.
No meu caso, foi uma emergência, a qual vou descrever a seguir, e da qual resultaram dois internamentos no espaço de pouco tempo. No meu segundo internamento, tive tempo para inventar uma receita de culinária. É que, no Hospital, o tempo custa a passar e eu arranjei várias formas de ocupar o meu cérebro e, assim, foi mais fácil de aguentar. Entretive-me a trocar ideias com os outros doentes e com as enfermeiras e assim o tempo passou mais rapidamente.

Capítulo 1 - Ida ao Hospital

Recorrer aos serviços de um Hospital é entrar num mundo diferente, com regras e ritmos próprios. São diversos os motivos para se ir a um Hospital:

Emergência:
Doença súbita, acidente, parto, etc.
Consultas de Especialidade ou Vigilância:
Consultas de rotina
Visitas:
Familiares, amigos, conhecidos, etc.
Trabalhar no Hospital:
Médicos, enfermeiros, etc.

A toda a hora chegam doentes de ambulância ou em carros particulares, feridos graves, uns mais doentes do que outros, bebés, crianças, jovens, adultos ou velhinhos. Encontram-se de todas as idades lá. O serviço de atendimento do Banco de Urgência funciona 24 horas por dia. Médicos, enfermeiros, auxiliares, empregados de limpeza, empregados de bar, maqueiros, todos estão ao serviço dos doentes, trabalhando por turnos, de forma a assegurar que o serviço hospitalar funcione em pleno.
Ao chegar ao Hospital, o doente ou o seu acompanhante tem de fazer a inscrição e pagar a taxa moderadora, aguardando de seguida que o chamem à triagem, onde avaliarão a gravidade do problema, atribuindo-lhe uma pulseira colorida para o efeito. Quanto menos grave for o caso, mais tempo o doente espera. Os casos graves têm entrada imediata para consulta médica, sendo encaminhados para realizarem exames ou análises.
Depois de diagnosticado o problema, o doente poderá ser medicado e regressa a casa ou, caso seja necessário, será internado.

Capítulo 2 – Cirurgia e Internamentos

Nos dias que antecederam o meu internamento, eu passava muito tempo no Hospital. O meu neto, o Henrique, estava internado na pediatria, com uma infecção, e eu passava os dias no Hospital a ajudar a minha filha a tomar conta do Henrique, para ela não estar sempre lá. Até que, no dia anterior ao meu primeiro internamento, tive um ataque de tosse muito forte e começei a sentir dores abdominais na zona do umbigo. Vim para casa, mas não senti melhoras. No dia a seguir (5 Dezembro 2007), fui às Urgências e o diagnóstico foi: hérnia umbilical estrangulada. Fui operada no mesmo dia, com anestesia epidural, pois era um caso grave que necessitou de uma intervenção rápida. Estive sempre consciente e correu tudo bem. Tive alta no dia 9 e o mais curioso foi que o meu neto também teve alta nesse mesmo dia.
No próprio dia, mais ao fim da tarde, tive de voltar às urgências, pois tive uma reacção alérgica aos medicamentos. O médico que me atendeu nessa noite apenas me retirou o medicamento que considerava ser o culpado pela reacção alérgica, mas disse- -me para continuar a tomar os outros. Voltei para casa, continuei a piorar, diversas vezes fui a consultas no Centro Médico e as minhas reacções alérgicas cada vez estavam piores. Comecei a ter o corpo todo coberto de manchas vermelhas, parecia um escaldão, até que voltei ao Hospital e acabei por ficar internada mais uma vez. Os primeiros dois dias foram passados no corredor, numa maca, pois não havia camas vagas. Cada vez que me olhava ao espelho, só via pele vermelha e, ainda por cima, tinha imensa comichão. Como se ainda não bastasse este problema, a minha cicatriz infectou e até aos pensos anti-alérgicos fiz alergia. Os dias foram passando e os medicamentos lá foram surtindo efeito e a minha pele, a pouco e pouco, foi voltando ao normal. Tive alta a 23 de Dezembro e vim para casa passar o Natal, com a minha família. Para mim, foi um presente maravilhoso. Eu que via o pessoal médico a falar nos presentes, nas compras, de irem passar com a família, nem sequer fiz uma única compra de Natal. Estive em repouso, a medicação era muito forte e eu ficava muito sonolenta. Mas, acima de tudo, estava feliz por estar na companhia de quem me era querido.

Capítulo 3 – Ocupação do tempo/receita

No Hospital, o tempo ganha outra dimensão. Um dia tem apenas 24 horas, eu sei, mas, num contexto hospitalar, os ponteiros do relógio parecem não andar, dando a sensação de termos o dobro do tempo e a ocupação desse tempo é nula.
Na minha experiência pessoal, no espaço de tempo que estive internada e que passei no corredor, a minha única distracção era ver quem passava (bisbilhotice) e como me podia levantar. Se via alguém com dificuldades, eu ajudava. Algumas vezes, fui chamar os enfermeiros por surgirem complicações com outros doentes e dava água a doentes acamados que estavam na sala ao lado. Tinha ainda o cuidado de, no almoço e no jantar, ir colocar a loiça no carrinho, para as auxiliares não estarem sobrecarregadas.
Quando finalmente, fui para a enfermaria, tive a sorte de lá encontrar outra doente que também podia andar a pé e, mais importante, estava na posse de todas as suas faculdades. Eu e essa senhora conversávamos muito, fomos trocando receitas de culinária e cada uma falava da sua vida e da sua família; tínhamos muitas saudades do nosso cantinho. No mesmo quarto que nós, estavam mais duas senhoras, acamadas, e que tinham alguns problemas a nível psicológico e por esse motivo, não era possível haver grande diálogo com elas.
A certa altura, dei por mim a pensar em inventar uma receita para a ceia de Natal que fosse do agrado de toda a minha família. Os meus filhos e o meu marido não gostam do tradicional prato de bacalhau e, por isso, comecei a pensar em como dar a volta à questão, de forma a criar uma receita que contivesse na mesma os ingredientes tradicionais, mas que lhes agradasse. Por fim, lá tive uma ideia, e assim surgiu o “Bacalhau de Natal à Luz”, cuja receita é a seguinte:

Bacalhau de Natal à Luz (com migas)

800g de bacalhau alto demolhado
4 cebolas grandes às rodelas
1kg e meio de batatas às rodelas
1 lombardo/espinafres de tamanho médio
6 alhos picados
1 pão de mistura grande
Quantidade generosa de azeite
Bacon aos cubinhos
100gr de azeitonas pretas
3 batatas
Pimenta e sal q.b.
1 ovo
Coze-se o bacalhau juntamente com as 3 batatas e o lombardo cortado miúdo. Após cozido, reserva-se o caldo do bacalhau, as batatas e o lombardo. Limpa-se o bacalhau de peles e espinhas e lasca-se. Fritam-se as batatas às rodelas sem as dourar demasiado. Num tacho, douram-se, no azeite os alhos e as cebolas, junta-se o bacalhau e as batatas às rodelas, tempera-se de sal e pimenta, tendo o cuidado de verificar se o bacalhau já é salgado o suficiente.
Migas:

Douram-se 4 alhos em azeite, junta-se o lombardo cozido, envolve-se bem para ganhar gosto. Previamente, demolha-se o pão que, depois, se espreme e esfarela. É depois adicionado ao lombardo no tacho, tempera-se com sal e pimenta. Se estiver seco, junta-se um pouco da água da cozedura do bacalhau. Deixa-se apurar alguns minutos, mexendo bem.

Num tabuleiro untado com azeite coloca-se metade das migas no fundo, alisam-se, com a ajuda de uma colher de pau, e coloca-se por cima o preparado de bacalhau, que se tapa com as restantes migas. À parte, num recipiente, põem-se as 3 batatas cozidas reduzidas a puré. Junta-se um ovo batido e 1 copo pequeno do caldo da cozedura do bacalhau. Bate-se tudo muito bem e coloca-se no tabuleiro, por cima da última camada de migas. Com um garfo, fazer desenhos em xadrez na superfície. Por cima, decora-se com o bacon, e vai ao forno já previamente aquecido, para dourar. Antes de servir, distribuem-se por cima as azeitonas. Serve-se acompanhado com uma salada de grão cozido, temperada com azeite, vinagre, sal e cebola picada.

Conclusão

A minha estadia no Hospital foi um pouco dolorosa, o meu estado era grave e algumas coisas correram muito mal. Depois de ter alta, e já em minha casa, ainda fui muitas vezes às consultas hospitalares, pois a cicatriz da operação não estava a cicatrizar no tempo normal, devido à infecção. Só no final do mês de Fevereiro é que ficaram concluídos os tratamentos à cicatriz. Foi difícil, durante uns tempos não podia carregar pesos, nem me era permitido fazer esforços.
Actualmente, ando em consultas no Hospital Pulido Valente, a fazer testes às alergias medicamentosas, para os médicos determinarem quais os componentes dos medicamentos a que eu fiz reacção alérgica.
Para concluir, a minha receita foi um sucesso. Toda a minha família gostou e até já tive de a repetir e, seguramente, voltarei a fazê-la na Véspera de Natal.


Sem comentários: